quarta-feira, 19 de maio de 2010

E sobre a liberdade... Será que a temos?

«As danças folclóricas no metro, as inúmeras campanhas para a segurança, o slogan "amanhã trabalho" acompanhado pelo sorriso antes reservado aos tempos livres e a sequência publicitária para a eleição para os Prud-Hommes*: "Não deixo que ninguém escolha por mim" - slogan ubuesco e que soava tão espectacularmente falso, de uma liberdade irrisória, a de fazer acto de social na sua própria recusa. Não é por acaso que a publicidade, depois de ter veiculado durante muito tempo um ultimato implícito de tipo económico, dizendo e repetindo no fundo incansavelmente: "Compro, consumo, gozo", repete hoje sob todas as formas: "Voto, participo, estou presente, isto diz-me respeito" - espelho de uma zombaria paradoxal, espelho da indiferença de todo o significado público.»

*Conselho electivo que julga as pendências profissionais

Estou a ler Simulacros e Simulação (alguns capítulos) de Jean Baudrillard para um trabalho que tenho que apresentar na 2.ª feira. Estava a achá-lo um bocado secante (filosofia não é bem a minha praia), mas o sarcasmo deste filósofo revela uma classe e uma subtileza que me deixa com uma inveja miudinha de não saber escrever assim.

Quando era mais nova, na época da adolescência, em que todos pensamos de onde vimos, quem somos e para onde vamos, interrogava-me sobre a liberdade. O que é a liberdade, de facto? Somos livres? Não somos livres por completo, pois não? Estamos presos aos julgamentos, estamos preso ao sistema, estamos presos à sociedade. A liberdade que pensamos que temos não é a liberdade que realmente temos. Temos uma liberdade dentro de obrigações. Dentro de padrões. Não somos livres. Agrada-nos a ideia de podermos fazer o que sentimos, o que queremos. Mas podemos fazê-lo sem sofrer represálias? Queremos um escape às nossas obrigações. Queremos uma liberdade que não existe. Uma utopia... Irrisória, por sinal.

E, agora que falo nisto, talvez comece a perceber o que Baudrillard quer dizer com "hiper-real".

2 comentários:

  1. O Baudrillard é extraordinário. Li "O Crime Perfeito" e, realmente, a opinião pública é manipulada de tal forma...
    kiss

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  2. O tipo é genial, MESMO!! É preciso ler nas entrelinhas, para perceber o que ele escreve. A primeira vez que li foi tipo "WTF?!" lol

    Um Beijinho*

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